A MATEMÁTICA DA
MÚSICA
Por Elton Alisson
Agência FAPESP – Além de
astrônomo, físico, matemático e filósofo, Galileu Galilei (1564-1642) também
tinha formação em música, sobre a qual chegou a escrever em um de seus tratados
teóricos. Porém, a concepção musical do cientista italiano era muito diferente
da de seu pai, o músico prático e teórico Vincenzo Galilei (1533-1591).
Ao contrário do que
Galileu e alguns teóricos musicais defendiam no século 16, Vincenzo demonstrou
que a música não poderia ser embasada nas ideias pitagóricas abstratas vigentes
na época de razões de números inteiros, mas sim no fenômeno físico sonoro.
Essa contribuição do
pai de Galileu para a história da música e da ciência é relatada no livro Vincenzo Galilei contra o número sonoro, publicado em
setembro com apoio da FAPESP por meio da modalidade Auxílio à Pesquisa –
Publicações.
Resultado do projeto de
doutorado em história da ciência da pesquisadora Carla Bromberg, realizado na
Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo com Bolsa da
FAPESP, o livro aborda um período anterior à Revolução
Científica sobre o qual, segundo a autora, há poucos estudos na história da
ciência.
“O século 16 costuma
ser anexado ao 17 na historiografia da ciência e suas características acabam
sendo negligenciadas”, disse Bromberg à Agência FAPESP. “Esse período tem uma importância muito
grande para a história da ciência porque nele foram escritos tratados teóricos
sobre áreas chamadas de subalternas, como a música e a ótica, em que os autores
demonstram um descontentamento com relação à natureza de suas ciências e
propuseram discussões que levaram à reclassificação delas.”
Em alguns desses
tratados teóricos, Vincenzo Galilei questiona os fundamentos matemáticos da
música. Na época, a área não era classificada sobre uma base sonora, medida por
meio de unidades de frequência, por exemplo, mas sobre uma base matemática,
sendo entendida como um “número sonoro”.
“Embora existisse na
época tanto a música teórica como a prática, a teórica seguia uma tradição
platônico-pitagórica, que era defendida por Galileu e alguns teóricos musicais,
cujo fundamento era aritmético”, explicou Bromberg.
Segundo ela, por meio
de uma série de demonstrações, cálculos matemáticos e argumentos filosóficos,
Vincenzo provou a ineficácia da base matemática para a música.
Para isso, o músico,
que tocava alaúde, realizou diversos estudos sobre o comportamento dos
materiais e os instrumentos musicais da época. E, utilizando a filosofia de
Aristóteles (384-322 a.C.) conseguiu estabelecer uma nova fundamentação para a
música que, na época, era considerada como ciência.
“Esse fato é bastante
interessante porque a história da ciência do século 17 diz que foi quando se
rejeitou o método aristotélico é que se conseguiu desenvolver uma nova
concepção moderna de ciência”, disse Bromberg.
“No caso de Vincenzo
Galileu, no século 16, foi justamente se valendo da filosofia de Aristóteles
que ele conseguiu descobrir conceitos e desenvolver uma teoria para tirar a
música do pedestal da matemática e conduzi-la para o campo da acústica”, disse.
Contribuições musicais
De acordo com Bromberg,
uma das principais características musicais do repertório do século 16 era a
polifonia – composições musicais escritas para várias vozes independentes uma
das outras, porém com o mesmo grau de importância.
Por meio de diversos
tratados, Vincenzo Galileu começou a unificar esse sistema musical de múltiplas
vozes independentes e a transformá-lo em um sistema mais parecido com o
existente hoje, composto por escalas musicais diatônicas (que possuem um
determinado tom em relação a uma nota musical principal).
Em função disso,
pode-se dizer que o músico se antecipou à publicação em 1722 de “O cravo bem
temperado”, por Johann Sebastian Bach (1685-1750). Na obra, o compositor alemão
desenvolveu um conjunto de composições para o instrumento de teclado utilizando
a escala diatônica como “tempero” para calcular intervalos entre notas musicais.
“Por causa dessa
prática das escalas diatônicas, ele conseguiu calcular intervalos musicais, com
razões matemáticas, que não eram adotados pelos teóricos da época dele. Ele
mostra que a música tem na matemática apenas sua instrumentalização, mas que
não pode ter sua definição e seus conceitos baseados nela”, disse Bromberg.
A Física da Música
Características sonoras
A ciência pode hoje
apontar certas características físicas de um som musical que o distingue de
sons que são apenas ruídos. Utilizando instrumentos que transcrevem as ondas
sonoras em imagens visuais (tais como o “osciloscópio”), os cientistas
aprenderam que a maioria dos sons musicais formam estruturas definidas por
ondas e descritas por funções matemáticas (chamadas de “função seno” ou
“senóide”), e que cada instrumento produz uma modalidade matemática diferente.
O som é medido fisicamente por três grandezas; a intensidade, a frequência e o
timbre. Intensidade refere-se à amplitude das oscilações da pressão do ar.
Frequência é o número de vezes que a oscilação ocorre por unidade de tempo. E
timbre é relativo à presença de harmônicos no som.
Através de um
ociloscópio, podemos "ler" a matemática que há por trás da música.
Cada tipo de instrumento
musical tem uma espécie de "assinatura": um conjunto de
características sonoras associadas que têm uma descrição matemática
extremamente precisa, embora possam parecer subjetivas. O som pode ser
representado pela soma de diversas ondas individuais, o que chamamos de
“componentes de Fourier”. O que diferencia um instrumento de outro são as
amplitudes e a duração de cada um dos harmônicos presentes no som resultante. A
esse conjunto de características chamamos de timbre. A mesma nota emitida por
uma trompa soa diferente quando produzida por um violino. Isto acontece porque,
embora a freqüência fundamental dos sons seja a mesma em ambos os instrumentos,
a excitação das freqüências harmônicas é diferente. No violino, uma extensa
gama de harmônicos comparece junto à fundamental, e do conjunto desses sons
resulta o timbre do instrumento.
Mesmo uma única corda
pode vibrar em vários harmônicos simultaneamente. O timbre do instrumento é a
soma destes harmônicos em conjunto com as características da caixa
acústica do violão.
Outras caracterizações da
música envolvem harmonia e ritmo. A harmonia é a relação que se estabelece
entre notas musicais, de maneira a criar uma sensação agradável. Pode ser dada
por regras matemáticas de proporção, mas como podemos ter uma infinidade de
regras, a harmonia torna-se subjetiva, variando de acordo com o estilo
almejado. Os modelos clássicos tomavam partido do pensamento
pitagórico-platônico, buscando na música a proporção áurea. Por outro lado,
o rock, como proposta moderna de música, subverteu as regras e fez música
com acordes que, de acordo com os clássicos, seriam desagradáveis à audição
humana.
Ritmo relaciona sucessões
de tempos musicais tônicos e átonos, isto é, “fortes” e “fracos”. Pode se
definir o ritmo como algo que se aproxima das batidas cardíacas, ou seja, varia
de acordo com a emoção que se deseja expor: mais acelerado e frenético ou calmo
e suave. Se para a harmonia, mesmo com regras matemáticas, temos uma
subjetividade muito forte e presente, com relação ao ritmo tudo se torna
subjetivo, isto é, a única maneira de se avaliar um ritmo é baseado em
sentimentos e emoções.
Fonte sonora é qualquer
corpo capaz de fazer o ar oscilar com ondas de freqüência e amplitude
detectáveis pelos nossos ouvidos. No entanto, as fontes mais variadas e ricas
em qualidade sonora são os instrumentos musicais, que, de forma geral, podem
ser classificados em três grandes grupos: os instrumentos de percussão (como
tambor, atabaque, bongô, bateria e xilofone), os instrumentos de corda (como
violino, viola, contrabaixo, harpa, piano e violoncelo) e os instrumentos de
sopro (como clarineta, flauta, flautim, oboé, fagote, órgão de sopro e
saxofone). Lembro também de um “instrumento” muitas vezes esquecido: nossa voz
é um complexo de mecanismos presentes tanto nos instrumentos de sopro, cordas
ou percursão.
Cada instrumento musical
tem a característica de emitir uma mesma nota com timbre diferente dos demais
instrumentos. Isso dá ao instrumento uma qualidade particular, que o torna
único.
Nos instrumentos
de precursão, o que vale para a música é o ritmo, e não a harmonia.
Os sons dos instrumentos
de percussão dependem da vibração da película flexível em que se bate, com
baquetas ou com as mãos. A pele do tambor, por exemplo, é extremamente esticada
nas bases de uma superfície cilíndrica de madeira ou de metal. As vibrações da
pele e do corpo do tambor produzem o som. Em alguns tipos de tambor pode-se
alterar a freqüência do som variando-se previamente a tensão da pele. No
timbale, o músico consegue alterar a tensão que a pele é presa ao tambor
durante a execução sinfônica.
Como instrumentos de
ritmo, os tambores produzem sons que diferem radicalmente dos produzidos por
instrumentos mais melodiosos. Um bumbo (ou zabumba) e uma tuba, por exemplo,
produzem sons de muito baixa intensidade. Mas a tuba toca uma nota musical
definida matematicamente, ao passo que o som do bumbo é mais explosivo do que
melódico. A razão disto é que a nota da tuba é composta de um certo número de
ondas sonoras, cada qual com um comprimento de onda específico, ao passo que a
pele em vibração do bumbo e o seu interior cavernoso produzem um enxame
desorganizado de ondas. Em vista do tamanho do bumbo, suas ondas são quase
todas de baixa intensidade, mas incoerentes demais para compor uma nota
reconhecível. Os tambores compreendem a subdivisão mais importante dos
instrumentos de percussão. Tais instrumentos podem abranger quase tudo o que
produz som quando percutido.
Os instrumentos de corda
têm uma caixa acústica que amplifica o som produzido pela vibração das cordas,
como o caso do violino, da viola, do violoncelo, do contra-baixo e do violão.
Na maioria desses
instrumentos, o comprimento das cordas são geralmente variados pelos dedos da
mão esquerda. Obtêm-se os diferentes tons variando tal comprimento. A harpa e o
piano são exceções. Por não ser possível variar o comprimento das cordas da
harpa, seus pedais variam a tensão aplicada em tais cordas. Já o piano possui
cordas com tensões definidas. Utiliza-se de alavancas associadas à teclas para
que se acione a corda.
Assim como o piano, o
berimbau é um instrumento de corda percutida.
A maioria dos
instrumentos, no entanto, possui cordas presas a um braço e sobre uma caixa
acústica de madeira (utilizada para amplificar o som). A madeira e os espaços
de ar no corpo de um violino, por exemplo, são essenciais na produção de um som
com qualidade. Um bom violino tem a virtude especial de vibrar fielmente com
cada corda e nas diversas alturas, mesmo nas mais agudas. Um violino deficiente
altera as vibrações, aumentando algumas e omitindo outras.
O estudo dos instrumentos
de corda está baseado na teoria das ondas estacionárias, ou seja, na frequência
das ondas sonoras que as cordas emitem. Essas frequências naturais dependem de
três fatores: a densidade linear das cordas (a massa da corda dividida pelo
volume que a mesma ocupa), o módulo da tração a que elas estão submetidas (se a
corda está mais apertada ou frouxa no braço do instrumento) e o comprimento
linear da corda.
Instrumentos de sopro
Exemplos
de instrumentos de sopro: clarinete, clarone, fagote, oboé, sax alto, sax
soprano, sax tenor e sax barítono.
Nos instrumentos de
corda, os músicos vibram tais cordas e esta vibração se transmite ao
instrumento, que vibra o ar, produzindo o som que chega a nossos ouvidos. Por
outro lado, nos instrumentos de sopro, o músico vibra o ar diretamente,
utilizando-se dos próprios lábios, da força do diafragma e do controle das
aberturas do instrumento (com seus dedos).
Através do movimento do
ar dentro da coluna de ar, temos o som dos instrumentos de sopro e seus
harmônicos.
Se soprarmos várias
garrafas (que contenham quantidades distintas de água) por seu gargalo,
perceberemos diferentes sons. As que contiverem mais ar (consequentemente menos
água) produzirão um tom mais baixo do que as outras. A coluna de ar mais longa,
tal como a corda mais longa, produz um som mais grave.
Na maioria dos
instrumentos de sopro, da flauta ao órgão, muda-se a frequência do som
alterando-se o comprimento da coluna de ar. Em instrumentos onde o ar é
movimentado pela boca do instrumentista, o músico aumenta a coluna de ar
cobrindo os orifícios do instrumento e a diminui os descobrindo. Isso é feito
com as pontas dos dedos diretamente ou com auxílio de teclas ou chaves. No
entanto, o órgão de sopro (comumente utilizado em igrejas góticas) movimenta o
ar através de um mecanismo próprio, e o controle da coluna de ar se dá por meio
das teclas que acionam tubos de diferentes comprimentos e diâmetros.
O bocal de um clarinete,
por exemplo, tem uma lâmina fina de bambu, conhecida como "palheta".
Soprando no bocal, a palheta vibra, produzindo, deste modo, uma onda sonora que
se propaga para a extremidade aberta do instrumento, onde é parcialmente
refletida. A onda refletida volta para o bocal, reflete-se de novo, e assim por
diante. As ondas, viajando de uma extremidade para outra do tubo, fazem a
palheta vibrar com uma certa frequência. Se encurtássemos o tubo, as ondas
viajariam uma distância menor, voltando ao ponto de partida em menos tempo; a
frequência seria assim aumentada e o som se tornaria mais agudo. Em vez de
cortar o tubo, pressionamos teclas de modo a abrir os orifícios existentes nos
lados. Isto tem o mesmo efeito que encurtar o tubo, formando uma escala.
No trombone de vara,
faz-se o aumento e a redução da coluna de ar movimentando para dentro e para
fora um tubo em forma de U (isto é, encurtando ou aumentando o comprimento do
tubo). Em outros instrumentos, como a corneta, a tuba, o clarim, a trompa e o
trombone, o que produz a vibração do ar é a vibração dos lábios do músico.
No trompete de vara a
coluna de ar é variada movendo a extensão em forma de U. Hoje
em dia, com o avanço da eletrônica em todas as modalidades do conhecimento
humano, os instrumentos acabaram se subdividindo em duas categorias: os
acústicos (corda, sopro e precursão) e os eletrônicos.
Instrumentos Eletrônicos
Datam da década de 1960 e
são compostos por sintetizadores. São exemplos a guitarra, o teclado, o
contra-baixo, etc. Hoje em dia, quase todo instrumento tem sua versão
eletrônica.
Com a finalidade de criar
um som, o músico faz ajustes nas intensidades das frequências envolvidas, a fim
de conseguir um timbre que o satisfaça. Porém, antes de 1985, não era possível
conseguir sons contendo timbres naturais, como o violino ou o trompete, devido
ao fato destes instrumentos produzirem um número muito grande de harmônicos em
seus sons.
Com a invenção
do sampler ("amostrador"), criou-se o caminho inverso, ou
seja, este dispositivo era capaz de captar os sons produzidos por algum
instrumento musical e armazená-los em sua memória. Com os consequentes avanços
no campo da eletrônica, hoje em dia já se produzem cd's totalmente compostos
por sons sintetizados, imitando guitarra, flauta, baixo, etc. Existem modernos
teclados eletrônicos que produzem os sons de diversos instrumentos, uma
verdadeira orquestra em um único aparelho.
Por fim, acompanhando os
avanços dos instrumentos eletrônicos, surgiu uma linguagem de transmissão de
dados digital especialmente destinada à música, denominada MIDI (do
inglês: musical instrument digital interface), que interliga qualquer
instrumento musical a um sintetizador por meio de um cabo conector. Deste modo,
caso se registre no sampler do sintetizador o som de uma tuba,
pode-se conectar outro instrumento musical, por exemplo um banjo, e, ao
tocá-lo, sairá o timbre musical da tuba.
Assim, música é pura
arte, mas mesmo a mais essencial das artes pode ser avaliada e estudada pelo
universo da Física.
© Revista Eletrônica
de Ciências - Número 25 - Abril de 2004.
A
influência da matemática na música
De acordo com o
engenheiro eletrônico Miguel Ratton, vamos desvendar a relação essencial entre
números e sons.
O
que música tem a ver com matemática?
Muito
mais coisas do que podemos imaginar. As melodias que nos emocionam, são, na
verdade, construídas a partir de relações matemáticas muito precisas. O
engenheiro eletrônico Miguel Ratton, formado pela Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ), dá mais detalhes sobre como funciona a dobradinha
fundamental música/matemática na entrevista abaixo, confira:
Qual
a relação entre a música e a matemática? A música não existe sem a matemática?
A
música já existia antes do desenvolvimento da matemática, porque a combinação
dos sons, ainda que em boa parte dominada por relações matemáticas, baseia-se
em nossa percepção psicoacústica, ou seja, nossa percepção fisiológica do som.
Então,
a formação do som e da música é um processo físico?
Totalmente. O som é um fenômeno físico e como tal faz parte do estudo da física. A música é a arte da combinação de sons (e silêncios). Portanto, para entender profundamente música é necessário conhecer física.
Totalmente. O som é um fenômeno físico e como tal faz parte do estudo da física. A música é a arte da combinação de sons (e silêncios). Portanto, para entender profundamente música é necessário conhecer física.
Quais
teorias matemáticas (teoria dos conjuntos, teoria dos números, álgebra
abstrata...) podem ser aplicadas à música? De que forma e por quê?
A
música pode ser usada para ilustrar alguns conceitos matemáticos. As figuras de
tempo (duração) das notas, por exemplo, são frações de compasso do tipo 1/2,
1/4, 1/8, etc. A altura (afinação) das notas é estabelecida por uma relação
exponencial, do tipo "2 elevado a x/12", onde x é a distância de uma
nota a outra. A nossa percepção de intensidade dos sons se dá de forma
exponencial e por isto medimos intensidade usando uma escala logarítmica
(decibel). Já a teoria dos conjuntos poderia ser usada para distinguir alguns
harmônicos (frequências múltiplas inteiras) de uma nota que também estão
presentes em outra nota.
Os sons constituem o que se chama de escala musical, e eles são definidos de forma matemática, certo?
Os sons constituem o que se chama de escala musical, e eles são definidos de forma matemática, certo?
A
escala musical usada atualmente pela maioria dos povos é a escala
"igualmente temperada". Esta escala foi estabelecida por volta do
século 17I e caracteriza-se por uma relação exponencial: a
"distância" entre uma nota e sua oitava (o dobro da frequência) foi
dividida exponencialmente em doze partes, de maneira que a relação entre
qualquer nota e sua vizinha anterior (exemplo: dó# e dó) é sempre igual à raiz
12 de 2 (aproximadamente 1,059). O estabelecimento dessa escala não foi por
acaso, mas sim para resolver o problema que havia nas escalas anteriores, que
eram baseadas nas relações puras (3/2, 4/3, etc), definidas originalmente por
Pitágoras, e que não permitiam a execução de qualquer música em qualquer
tonalidade. A escala temperada possibilita que se façam transposições de
tonalidade e modulações sem os inconvenientes (intervalos desafinados) das
escalas antigas. É importante observar que, ao se ajustar a escala para o
temperamento igual, as relações entre as notas da escala (exceto a oitava)
deixaram de ser "acusticamente perfeitas" (3/2, 4/3, 5/4, etc). Esses
erros, no entanto, são muito pequenos e não são percebidos pela maioria das
pessoas.
Um som agradável ou desagradável tem a ver com a relação matemática entre os sons?
Um som agradável ou desagradável tem a ver com a relação matemática entre os sons?
Certamente.
Duas notas soando juntas são agradáveis ou não conforme a distância de suas
alturas (frequências), sobretudo pela combinação de seus harmônicos. O
intervalo mais consonante é a oitava, onde a frequência de uma nota é o dobro
da outra e todos os seus harmônicos são iguais. Já no intervalo de quinta,
metade dos harmônicos se combinam. A consonância tem a ver com as regiões do
ouvido interno que são excitadas pelas duas notas e seus harmônicos: quando
essas regiões estão muito próximas, a percepção individual de cada som é
dificultada, causando uma sensação desagradável ("aspereza"). Esses
intervalos podem ser definidos matematicamente.
Como se formam as notas musicais? Elas estão ligadas também à matemática? De que maneira?
Como
mencionei anteriormente, as alturas das notas da escala são determinadas por
relações matemáticas. As sete notas naturais (dó, ré, mi, fá, sol, lá, si)
foram determinadas inicialmente a partir de relações fundamentais.
Posteriormente, foram adicionadas as outras cinco notas ("acidentes"
- sustenidos/bemóis) para completar os espaços entre todas as notas.
Existem registros na Antiguadade de estudos que relacionavam música e matemática?
O
sábio grego Pitágoras provavelmente foi o maior estudioso da antiguidade sobre
o assunto, e a escala que usamos hoje foi baseada na escala pitagórica. Mas
também há indícios de que na antiga China já havia estudos de uma escala
temperada.
Qual
a diferença entre ritmo e harmonia?
Ritmo
é a combinação de sons no decorrer do tempo. Harmonia é a combinação de sons
simultâneos. Poderíamos dizer que o ritmo é "horizontal" e a harmonia
é "vertical" - exatamente como representamos na pauta.
O ensino da música pode contribuir para o aprendizado da matemática? E também de outras matérias?
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